quinta-feira, 28 de abril de 2011

Carta aberta ao Movimento Negro em geral e ao Movimento de Mulheres Negra, em particular.

Por Nairobi Aguiar,

Comunico às organizações de Movimento Negro e demais Movimentos Sociais e, em especial, às irmãs que compõem as organizações de movimento de Mulheres Negras, que eu, estudante do quinto semestre de Historia UNIJORGE – Centro Universitário Jorge Amado-  fui agredida com um tapa na cara por um estudante que compõe a organização do Simpósio de História “Pesquisa histórica na Bahia” na referida faculdade.
Fui agredida fisicamente (com um tapa na cara!) por um homem branco, estudante, como eu, do 5° semestre do curso de história da UNIJORGE – Centro Universitário Jorge Amado. Enfatizo esse dado, por sabermos que o racismo e o machismo se articulam o tempo todo, para impedirem que pessoas como eu (preta “estilo favela!”) possam representar uma pequena minoria do curso de história (brancos, e classe média). Atualmente ocupo a posição de Coordenadora Acadêmica do Centro Acadêmico União dos Búzios, representação legítima dos estudantes do curso de história dessa Instituição.

Inicialmente, estávamos organizando com a coordenação do Curso de História uma atividade acadêmica (o simpósio de história); Entretanto, da noite pro dia fomos retirados da organização com a explicação de que o evento não deveria ter envolvimento do movimento estudantil, por parte um dos palestrantes, e que não iríamos assinar os certificados por quem estava organizando era a instituição.

Quando chegamos, no dia anterior ao fato, encontramos esse grupo de estudantes com a camisa da organização do evento (que até então era da universidade), fizemos algumas intervenções falando sobre a institucionalização da atividade do movimento estudantil e sobre a apropriação intelectual da atividade. (Tudo isso causou incômodo à organização do evento – Coordenação e estudantes envolvidos no processo)

Quando cheguei à atividade, no dia seguinte, fui impedida de assinar a lista de presença, que me legitimaria ganhar o certificado de carga horária do evento. Todas as pessoas assinaram, quando chegou a minha vez a organização da atividade recolheu a lista, e eu perguntei num tom alto no meio da palestra: ‘por que vou assinar a lista lá fora, já que todos assinaram aqui dentro?’ Na mesma hora todo mundo parou e me olhou... Esperei o evento acabar e chamei a coordenadora do curso pra pedir explicação, a mesma não deu atenção, acabei não comunicando sobre o ocorrido. Quando sai do evento me dirigi até o LUCAS PIMENTA (o agressor) e perguntei: ‘posso assinar a lista?’ Ele disse: “você é muito mau educada!”, eu o interrompi e falei, ‘não quero te ouvir, só quero saber se posso assinar, caso contrario vou conversar com a coordenação’. E ele disse: “Você ta tirando muita onda, não é de agora que eu to te aturando!” E me deu UM TAPA NA CARA! Quando eu falei que Eu sou oriunda do Movimento Negro, do Movimento de Mulheres Negras, e que não ia deixar barato que ia acionar a Lei Maria da Penha pra ele, ele se curvou e foi segurado pelos colegas enquanto tentava me dar murros.

Ao dizer “você ta tirando muita onda”  e em seguida me agredir o Sr Lucas Pimenta  revelou um sentimento de insatisfação, não apenas dele, isoladamente, mas de muit@s outr@s diante do fato de eu ser Coordenadora Acadêmica no CA de História da Jorge Amado. O fato de estarmos adentrando o espaço acadêmico, por si só, já fez membros da elite branca sentirem-se ameaçados. Mas, esse tapa na cara ocorre em retaliação a um fato mais insuportável ainda, para Lucas e demais membros da elite racista desse país: sou Negra “favelada”, jovem e o represento, em um espaço que o projeto genocida de Estado brasileiro historicamente  reservou para os branc@s.                 
Por essas razões, conclamo meus irmãos e em especial às minhas irmãs para amanhã, na extensão desta atividade, manifestarmos politicamente a nossa indignação e repulsa, diante desse caso inequívoco de machismo e racismo.

Onde? Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE (Paralela)
Concentração: 18h, praça de alimentação.

10 comentários:

  1. Diante a esse fato é de extrema indignação q o senhor Pedro tenha feito um comentário desse tipo. Mas enfim, se até em instituições educacionais acontece esse tipo de absurdos imagine em outros ambientes. Tá na hora de a sociedade acordar, precisamos dar um baste nisso. Precisamos começar a evoluir não podemos continuar do mesmo jeito.


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  2. estou perplexo com o acontecido!! é realmente estarrecedor saber que num ambiente de cultivo de crescimento social e intelectual esteja acontecendo esse tipo de coisa, to até com medo de voltar a faculdade agora. Sou negro , gay, de classe média baixa e estudo Eng. de produção , posso ser agredido a qualquer momento.(o sarcasmo não teve intenção alguma de atenuar a gravidade do problema!)

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  3. Bem,primeiro o cinismo de Pedro(no comentário)é produto da mesma consciência de bisneto de Senhor de Senhor de engenho, acostumada a expoliar, torturar e matar negros neste país, portanto já conhecemos. Em relação ao épisódio quero propor a Direção da UNIJORGE uma refleção: se fosse um estudante negro que dentro de uma contenda motivada por questões políticas, se achasse no direito de dar "uma tapa" numa colega "branquinha", "loirinha", (protótipo da beleza européia, venerada pela sociedade brasileira)qual seria o desfecho esperado? Logo, a Bahia Negra, não espera nada menos que a expulsão deste "rapaz", para pelo menos amenizar a dor que estamos todos sentindo; sim, porque saibam os Senhores e Senhoras, que esta Militante é uma das mais queridas e respeitadas das justas causas do povo Negro (juventude, mulheres, Movimento Negro Acadêmico).
    Por último, quero dar um conselho ao "agressor", tetraneto daqueles que estupraram, exploraram e enriqueceram e assassinaram a muitos dos nossos tetra-avós: SUMA DA CIDADE!!!

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  4. A versão do acusado(que sempre deveria ser ouvido, em caso de denúncias na mídia ou internet), negando veementemente a da acusadora encontra-se no link abaixo:
    http://aqueimaroupa.com.br/2011/05/03/caso-unijorge-o-outro-lado-da-historia/

    O contraditório é um princípio legal, a busca da verdade é um princípio jornalístico.

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  5. É uma pena tanta gente ignorante, que nem sabe da história e já se posiciona contra uma parte que está acuada.
    Não estou desrespeitando ninguém, mas é sim, um ato de ignorância julgar baseado apenas no conhecimento acerca de um dos lados.
    Meus caros, antes de saírem crucificando o rapaz, informem-se!
    Sei exatamente como vcs se sentem, a primeira vista pode parecer uma afronta aos direitos que todos alegamos ter, mas não se pode julgar sem fatos! Disseminar esse discurso de repúdio (baseado apenas no relacionamento que tem com a acusadora) é um ato de IRRESPONSABILIDADE! Coloquem a mão na consciência (que vcs dizem tanto ter), e pensem bem acerca do ocorrido!
    E digo mais, se fosse ela a dar um tapa no rosto dele, seria o que? racismo contra um branco? feminismo? Não entendo como a cabeça de vcs funcionam, mas se dizem ter a mente aberta, repensem seus conceitos.
    O tal tapa não aconteceu! Quem estava lá viu!
    O que me parece? A menina está usando o coitado do garoto para se promover! Se é isso mesmo ou não, deixe que a justiça decida!
    Antes que passem a querer saber de mim e me acusar de racista, já deixo claro, sou NEGRO e nunca precisei me fazer de coitado para conseguir qualquer notoriedade!
    Amigos, trabalhem pela honra! Cresçam fazendo uso de seu esforço pessoal! Sejam justos!
    E o rapaz não tem nada que ser expulso da faculdade ou "sumir da cidade". Todos somos livres, e ameaçar o guri que está acuado é muito fácil e INJUSTO... Se alguém tiver que decidir a esse repeito, que seja quem tenha conhecimento de causa e possa lançar mão de um julgamento JUSTO.

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  6. Vários negros se unindo contra um branco sozinho e sem recursos... quem é a minoria agora?!

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  7. Portilho,
    Quem tem boca e dedo diz e escreve o que quer, mas as IMAGENS valem mais que MIL palavras.
    Desde já lhe informo que estou em apoio à companheira e não sou ignorante. Estaria em apoio se fosse com outra mulher, outro homem, dentre outras situações.
    Isso não é um fato político, muito menos uma relação pessoal. Vamos encarar os fatos, ser pessoas adultas e não desviar o foco. Isso é uma mulher que foi agredida por um homem colocado pela coordenação do curso como organizador de um evento que institucionalizado arbitrariamente. Evento esse que aconteceu dentro de um espaço institucional onde se tem câmeras e pessoas circulando o tempo todo. Qualquer tipo de violência, seja ela física ou não, deve ser denunciada e repudiada.
    A sindicância foi aberta e o caso está sendo analisado pelo jurídico da faculdade. A violência aconteceu, existem testemunhas que viram na hora e, como disse anteriormente, está tudo gravado. Se não sabe, pessoas próximas a esse rapaz repudiaram a violência no último dia do simpósio, onde teve a intervenção do Movimento Negro, com apoio de um ícone da historiografia brasileira, o Prof. João José Reis. Isso também está gravado.
    Você acredita realmente que uma pessoa vai querer se promover dizendo que tomou um tapa na cara? Você acha que realmente ela precisaria disso? Ela não precisa disso. É importante lembrar mais uma vez que isso foi num espaço com câmeras, com pessoas circulando.
    Essa “união de negros” que você se refere são os familiares, amigos, pessoas próximas de uma mulher que foi agredida. Ela, como eu, como você, como qualquer outra pessoa, não é sozinha e tem companheiras(os) para ajudá-la em momentos difíceis, principalmente quando se tem razão. Se você vê o apoio a uma pessoa agredida como problema companheiro, penso que você precisar rever seus conceitos.
    Repúdio qualquer tipo de violência e aguardo ansiosamente o resultado da sindicância.
    É só aguardar, pois certamente a justiça será feita.

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  8. O mau do povo é ouvi só um lado e sempre acusar um homem. Agora ninguém sabe como tudo começou quem foi agredido por quem nas agressões verbais. E pelo o que eu sei(as infomações) quem começou tudo isso foi um grupo de estudantes revoltado pelo fato de serem desclassificados do tal simposio, onde queriam de qualquer forma acabar com evento Enfim! Vocês que coloquem a mente pra funcionar e perceber que ameças não levam a nada e toda situação pode se reverter. Sou negra, mas luto a favor da verdade, e nesse caso, conhecendo o Lucas, sei de que lado a verdade está. Lutarei com ele!

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  9. A violência na UNIJORGE não pode passar em branco: http://caubblog.blogspot.com/2011/05/violencia-na-unijorge-nao-pode-passar.html

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